GUERRA CIVIL NA LÍBIA
RIO - Depois de manifestantes tomarem a segunda
cidade mais importante da Líbia, Benghazi,
enfrentamentos foram registrados na região central da
capital do país, Trípoli. Há relatos de que dezenas de
pessoas morreram. Oposicionistas entraram em confronto
na noite de domingo com forças de segurança e
partidários do líder líbio Muamar Kadafi, há 42 anos no
poder. Os choques se estenderam ao menos até a manhã
desta segunda-feira.
Segundo agências de notícias, o prédio do governo
onde o Congresso Geral do Povo se reúne foi incendiado.
A rádio e a TV estatais também teriam sido queimadas e
saqueadas. A rede al-Jazeera informa que a sede do
governo líbio e o edifício que abriga o Ministério da
Justiça também foram atacados.
O ministro da Justiça líbio, Mustafa Mohamed Abud Al
Jeleil, renunciou ao cargo devido ao uso excessivo de
violência, segundo o jornal local Quryna. Os
embaixadores da Líbia na Índia, na China e na Liga Árabe
renunciaram em protesto contra a repressão Pas
manifestações, segundo a rede BBC.
Em outra mostra das divergências no regime de Kadafi,
o ex-porta-voz do governo Mohamed Bayou, que estava no
cargo até um mês atrás, disse nesta segunda-feira que o
uso da violência para frear a revolta é um erro. Em
comunicado, Bayou pediu diálogo com a oposição.
Ministros das Relações exteriores da União Europeia
também criticaram a repressão aos protestos na Líbia. O
secretário-geral da Liga Árabe, o egípcio Amr Moussa,
também cobrou nesta segunda o fim da violência na Líbia,
afirmando que as demandas do povo são legítimas.
- Os sentimentos de todas as nações (árabes) estão
juntos nesse momento decisivo da história - disse
Moussa, segundo a agência de notícias egípcia Mena.
Testemunhas disseram que manifestantes entraram na
noite de domingo na Praça Verde, no centro de Trípoli, e
em praças próximas. Membros das forças de segurança
vestidos como civis e milicianos teriam atacado os
manifestantes. De acordo com uma testemunha,
francoatiradores dispararam de telhados. Outros dois
afirmaram que homens armados e com fotos de Kadafi
dispararam aleatoriamente a bordo de veículos em alta
velocidade.
Centenas de de líbios também atacaram uma construção
em Trípoli, que seria propriedade sul-coreana, informou
nesta segunda-feira o Ministério das Relações Exteriores
da Coreia do Sul. O manifestantes invadiram o local por
volta das 23h de domingo (18h no horário de Brasília) e
o ataque terminou por volta das 5h (meia-noite em
Brasília). Três trabalhadores sul-coreanos ficaram
feridos e um ou dois trabalhadores de Bangladesh ficaram
feridos.
Filho de Kadafi diz temer guerra civil
Depois de dias de protestos, manifestantes que
protestam contra Kadafi tomaram no domingo a segunda
maior cidade da Líbia, Benghazi, disseram testemunhas à
rede CNN. Eles teriam o apoio de militares que romperam
com o governo.
À TV estatal do país, o filho do ditador Seif
al-Islam Kadafi disse que seu pai vai lutar até que
"último homem esteja de pé" e que o Exército vai
garantir a segurança da nação a qualquer custo. Ele
afirmou ainda temer uma guerra civil e a segregação do
país em pequenos reinos islâmicos, se os levantes
continuarem.
- Nós não somos a Tunísia ou o Egito - disse.
Seif anunciou, ainda, que o Congresso Geral
(equivalente ao Parlamento) vai se reunir nesta
segunda-feira para discutir uma "clara" agenda de
reformas, e o governo vai aumentar os salários. Em uma
tentativa de desqualificar as manifestações, Seif
al-Islam atribuiu as agitações dos últimos dias a
bêbados, criminosos e estrangeiros.
O filho do líder líbio acrescentou que o número de
mortos foi superestimado e disse que eles somam 84. A
organização Human Rights Watch informou, no entanto, que
já são ao menos 233.
Governo americano diz estar 'muito preocupado'
Os distúrbios na Líbia já são considerados os mais
sangrentos desde o início das revoltas de Tunísia e
Egito, há pouco mais de um mês. A notícia sobre a
violência usada para impedir os protestos estremeceu as
já razoáveis relações com os Estados Unidos.
A embaixadora americana nas Nações Unidas, Susan
Rice, condenou os ataques, dizendo aos líderes afetados
pelas revoltas que deixem de resistir às reformas.
Segundo ela, o governo de Barack Obama está "muito
preocupado" com os relatos de ataques armados.
O confronto pode ter consequências econômicas para
outros países. No fim da noite de domingo, o chefe da
tribo Al-Zuwayya, Faraj al-Zuway, disse que interromperá
o fornecimento de petróleo para o Ocidente caso as
autoridades não ajudem a depor Kadafi. Fonte
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