O POVO IMUNE AO CÂNCER
Quito, 17 fev (EFE).- Os genes de um grupo de
equatorianos de baixa estatura que não sofrem de câncer
ou diabetes abrem novas vias de tratamento para pessoas
que têm essas doenças, disse à Agência Efe Jaime Guevara
Aguirre, o principal responsável pela descoberta.
O médico equatoriano estuda desde 1987 um grupo de
100 pessoas de entre 1,15 metro e 1,25 metro de altura
originárias de regiões do sul do Equador e que têm uma
mutação genética que impede seu crescimento.
Com a passagem dos anos, Aguirre percebeu que, mesmo
sendo obesas, as pessoas pertencentes a esse grupo não
desenvolviam diabetes e nem morriam de câncer. Em todos
esses anos, uma delas chegou a desenvolver um tumor, mas
conseguiu se curar.
A descoberta, divulgada na quarta-feira em artigo
escrito em colaboração com Valter Longo, da Universidade
do Sul da Califórnia, para uma revista científica
americana, poderia passar em breve do terreno científico
para a prática.
Longo pretende solicitar ao Governo americano o uso
de medicamentos que bloqueiem o crescimento de pacientes
que sofrem de câncer.
Aguirre disse que ele provavelmente fará estudos
sobre essa possível aplicação para a Universidade do Sul
da Califórnia em um hospital da Sociedade da Luta contra
o Câncer (Solca) do Equador.
"A única coisa que me interessaria saber é que essas
pessoas que estão sofrendo têm a possibilidade" de ter
um tratamento mais efetivo, disse Guevara Aguirre, quem
ressaltou que um efeito colateral provável dessa
alternativa seria o aumento do colesterol.
A chave para o sucesso do tratamento está no
organismo de pessoas como Luis Sánchez, um homem de 42
anos que tem a altura de uma criança e que colabora com
Aguirre há duas décadas.
Sánchez, filho de pais altos mas que eram portadores
da mutação, cooperou com o médico por altruísmo, assim
como os outros pacientes, com o desejo de que as
pesquisas dessem esperanças à próxima geração.
"Com os estudos realizados em nós (...) há a
oportunidade de se descobrir algo que possa ajudar as
crianças", disse Sánchez à Agência Efe.
No Equador, há cerca de 100 pessoas com a doença,
conhecida como síndrome de Laron, enquanto no mundo todo
há apenas 300.
Em uma pessoa normal, o hormônio do crescimento chega
a um receptor no fígado e se forma um composto chamado
IGF-1, que faz os tecidos e os ossos crescerem.
Os que sofrem dessa síndrome têm uma deficiência do
receptor que faz com que se gere um baixo nível de IFG-1.
Mas, o estudo indicou que, ao mesmo tempo, essas pessoas
"não se têm câncer", enquanto seus parentes que não
sofrem da síndrome desenvolvem a doença.
Em teoria, se medicamentos já existentes forem usados
para bloquear esse receptor em um adulto, que não
necessita crescer mais, seria possível lutar contra o
câncer, afirmou Aguirre.
O médico não tinha essa ideia em mente quando iniciou
suas pesquisas há 24 anos em pequenos povoados das
províncias de Loja e El Oro com dinheiro doado por seu
pai, mas se interessou pela prevalência da obesidade
entre os pacientes com a síndrome de Laron.
Com a passagem dos anos, descobriu como tratá-los e
realizou "os melhores estudos de crescimento no mundo",
disse.
Ele administrou hormônios doados por uma companhia
farmacêutica durante dois anos, mas parou quando estes
acabaram.
A empresa continuou tratando os pacientes da síndrome
na Europa e nos Estados Unidos, mas não os equatorianos,
disse Aguirre, quem acrescentou que nunca recebeu apoio
do Governo do Equador.
Com o hormônio, agora fabricado pela companhia
francesa Ipsen, os equatorianos que sofrem da síndrome
poderiam crescer até 1,4 metro, uma altura que os
permitiria integrar-se mais facilmente no Equador, onde
as pessoas, em geral, são baixas.
"Estes pacientes deram muito durante os últimos 20
anos: deram sua dor, seu sangue e sua cooperação", disse
o médico.
Para o mundo, esses 100 equatorianos oferecem a
oportunidade de se combater doenças fatais.Fonte
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