RENUNCIOU MUBARAK
Um dia após anunciar o "fico" em pronunciamento
à TV estatal, o presidente do Egito, Hosni Mubark,
renunciou ao cargo nesta sexta-feira. Ele estava havia
30 anos no cargo. A renúncia foi anunciada pelo
vice-presidente Omar Suleiman, que também deixou o
governo.
O governo será exercido por um conselho das Forças
Armadas. Segundo uma fonte da Agência Reuters, o
ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, vai chefiar
o Conselho Militar. De acordo com a rede de televisão Al
Arabiya, Conselho Militar vai demitir o gabinete e
suspender as duas casas do Parlamento. A TV acrescentou
que o Conselho Militar vai administrar o país com o
chefe da Suprema Corte Constitucional.
Mubarak tentava uma saída honrosa, mas não resistiu à
pressão da população, há mais de duas semanas aglomerada
na praça Tahir, no Cairo, e em diversas outras cidades
do país. Relatos dão conta de que 14 milhões de egípcios
saíram às ruas nesta sexta-feira exigindo a renúncia de
Mubarak.
Logo após o anúncio, os milhares de manifestantes
festejaram agitando bandeiras, gritando, rindo e se
abraçando. "O povo derrubou o regime", gritava a
multidão na Praça Tahrir, de acordo com relato da
agência Reuters.
Em pronunciamento na TV, Suleiman disse que o
presidente "decidiu deixar o cargo de presidente da
República".
O vice acrescentou que Mubarak passou o poder ao
Supremo Conselho Militar para administrar a nação
durante "as difíceis circunstâncias que o país está
atravessando".
Cronologia do conflito
A onda de protestos contra o ditador egípcio Hosni
Mubarak no Egito eclodiu no dia 25 de janeiro. As
manifestações que pedem o fim da permanência do líder no
poder - que já dura 30 anos - ecoavam os protestos que
haviam derrubado o líder da Tunísia duas semanas antes.
Só nos primeiros dois dias de protestos, cerca de 500
manifestantes foram presos. Segundo a ONG Human Rights
Watch, 297 pessoas morreram nessas quase três semanas de
conflito.
No dia 28, Mubarak demitiu todo o seu gabinete e
começou a formar um novo governo. As mudanças não
aplacaram os manifestantes, que continuaram a pedir a
renúncia do presidente.
No dia primeiro de fevereiro pelo menos um milhão de
pessoas foi às ruas, em cenas nunca vistas antes na
história moderna do país, exigindo em uníssono a
renúncia de Mubarak. Só na cidade do Cairo ao menos
500.000 pessoas concentraram-se na praça central Tahrir
para a chamada "marcha do milhão", convocada pela
oposição. Em Alexandria, a segunda maior cidade do país,
de 400.000 a 500.000 pessoas foram para as ruas neste
dia.
Há uma semana, Mubarak disse que gostaria de
renunciar, mas que teme o caos no país caso deixe o
poder. "Estou cheio. Depois de 62 anos no serviço
público, eu tive o suficiente. Quero sair", afirmou à
jornalista Christiane Amanpour, da rede norte-americana
ABC.
Na última sexta-feira o oposicionista e ganhador do
Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei disse que poderia
concorrer nas eleições presidenciais do Egito se o povo
assim o pedisse, rejeitando a notícia veiculada por um
jornal austríaco de que não disputaria o cargo.
Durante a crise o governo interrompeu o acesso à
internet e o sinal de telefones celulares para tentar
atrapalhar os planos dos manifestantes.
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