ENTENDA O CASO DAS ESCUTAS
ILEGAIS DO 'NEWS OF THE WORLDS'
O tabloide dominical britânico "News of the World",
que era o mais vendido do país, foi fechado no último
domingo por seu controlador, o grupo News International,
devido ao envolvimento do jornal em um escândalo de
escutas telefônicas ilegais.
Publicado pela primeira vez há 168 anos, o jornal,
cuja tiragem chegava a 2,8 milhões de exemplares a cada
domingo, gerou um debate nacional sobre ética
jornalística.
A BBC preparou uma série de perguntas e respostas
sobre o caso e os acontecimentos que levaram ao
fechamento do tabloide.
Como o escândalo começou?
As acusações de que funcionários do "News of the World"
estariam envolvidos em interceptação ilegal de telefones
começaram a surgir em 2006. Em 2007, a Justiça condenou
à prisão o correspondente do jornal para assuntos da
realeza Clive Goodman e o investigador Glenn Mulcaire
devido ao grampo ilegal de telefones de membros da
família real.
A Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard)
iniciou uma nova investigação em janeiro de 2011, após
alegações de que milhares de pessoas, entre elas atores,
políticos, jogadores de futebol, apresentadores de TV e
outras celebridades, tiveram seus telefones
interceptados ilegalmente. Em abril deste ano, o
tabloide admitiu publicamente pela primeira vez ter
interceptado mensagens deixadas na caixa postal de
celulares de pessoas envolvidas em casos acompanhados
pelo jornal.
O caso ganhou contornos de escândalo no início de
julho, com a denúncia de que um detetive que trabalhava
para o jornal teria grampeado o telefone celular
--inclusive apagando mensagens-- de Milly Dowler, uma
menina de 13 anos que desapareceu em 2002. A manipulação
das mensagens, ainda em 2002, fez a polícia e a família
da jovem acreditar que ela ainda estaria viva, já que a
sua caixa postal continuava sendo "limpa". O corpo foi
encontrado depois.
Quais são as consequências do escândalo até o
momento?
O escândalo por si só afugentou anunciantes do grupo e
derrubou as ações do conglomerado nas bolsas americanas
e da Austrália. Diante da intensa pressão de políticos,
da imprensa e da opinião pública, o dono da News
International, o magnata australiano Rupert Murdoch,
desistiu na quarta-feira, 13 de julho, de seguir com
seus planos de adquirir a totalidade das ações da
operadora de TV por assinatura britânica BSkyB, da qual
seu grupo já possui 39%.
A diretora-executiva do grupo News International,
Rebekah Brooks, foi convocada para comparecer ao
Parlamento britânico na terça-feira, dia 19, para
responder a perguntas sobre o escândalo. Brooks foi
editora-chefe do "News of the World" em 2002 --à época
das supostas escutas no telefone da menina Milly Dowler.
Rupert e seu filho James Murdoch, também foram
convidados à comparecer à mesma sessão no Parlamento. No
entanto, os dois já alegaram impedimentos para não ir na
data --James alega que só estará disponível em 10 de
agosto. Diante da negativa, uma comissão parlamentar
convocou ambos para comparecer, mas, como Rupert e James
são cidadãos americanos, não são obrigados a ir.
Em 8 de julho, o jornalista Andy Coulson,
ex-editor-chefe do "News of the World" e ex-chefe de
comunicações do primeiro-ministro David Cameron, foi
detido. Já no dia 14, o ex-editor executivo do "News of
the World" Neil Wallis também foi detido em conexão com
o escândalo dos grampos. Wallis foi preso e levado para
interrogatório em Londres, sob suspeita de conspirar
para interceptar comunicações.
Quem teria sido grampeado?
Logo após a divulgação do caso de Milly Dowler, jornais
britânicos afirmaram, que, em busca de histórias
exclusivas, o News of the World fez escuta nos celulares
de familiares de soldados britânicos mortos no
Afeganistão e de vítimas de casos policiais explorados
pelo tabloide.
Parentes de vítimas dos atentados de julho de 2005 em
Londres também teriam sido alvo dos grampos. Segundo o
jornal "The Guardian", 3.000 pessoas foram vítimas de
escutas ilegais do "News of the World". Entre elas,
estariam celebridades como o ator Hugh Grant e as
atrizes Sienna Miller e Gwyneth Paltrow, além de
esportistas e políticos.
"O caso do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto
por engano pela polícia britânica em 2005, também tem
relação com o escândalo?"
Sim. Alex Pereira, primo de Jean Charles, teria sido uma
das milhares de pessoas que tiveram seus telefones
grampeados. Alex teria sido informado pela polícia que
seu telefone constaria a relação de números que teriam
sido interceptados pelo tabloide.
De acordo com o "Guardian", a família do brasileiro
escreveu uma carta ao primeiro-ministro britânico
pedindo para estender o inquérito a respeito dos grampos
telefônicos. Os parentes do brasileiro querem descobrir
se policiais envolvidos na investigação da morte de Jean
Charles estavam vazando informações para a imprensa,
fosse para obter benefícios financeiros, fosse para
melhorar a imagem da Scotland Yard.
Como o News of the World realizava os grampos?
Telefones celulares vendidos no Reino Unido vinham com
uma senha de quatro dígitos (que geralmente era um
número padrão, como 1234, 0000 ou 3333). Ao comprar os
aparelhos, os consumidores deveriam trocar esta senha,
mas poucos se davam ao trabalho de fazê-lo. Segundo as
acusações, os repórteres de tabloides e detetives
particulares simplesmente ligavam para o número da
pessoa investigada.
Se ninguém respondesse, a ligação caía na caixa de
mensagens. Assim, bastava entrar com a senha padrão para
acessar as mensagens. Outra tática comum seria trocar a
senha do telefone para impedir que outros jornalistas
acessassem a caixa de mensagens.
O que diz o jornal?
O News of the World inicialmente negou qualquer
infração, mas, em abril de 2011, acabou pedindo
desculpas, depois de forte pressão de outros veículos de
mídia e das vítimas das interceptações. O tabloide, no
entanto, não admite ter realizado grampos no celular da
garota Milly Dowler, nem nos telefones de parentes de
militares mortos no Afeganistão.
O que dizem as vítimas?
Famílias de militares mortos no Afeganistão se disseram
indignadas com as alegações. Muitas já entraram na
Justiça. Para Adrian Weale, representante do associação
de militares Federação das Forças Armadas Britânicas,
"esta é uma situação lamentável, se de fato ocorreu".
Celebridades também já processaram o jornal. Uma delas
foi a atriz Sienna Miller, que recebeu uma indenização
de 100 mil libras (R$ 248 mil).
O jornal também foi condenado pelo coronel Richard
Kemp, ex-comandante das forças britânicas no
Afeganistão, que disse que as acusações o deixaram
"absolutamente sem palavras e com raiva".
O caso já está sendo investigado?
A Scotland Yard reabriu as investigações sobre as
escutas do "News of The World" em janeiro passado, após
o vazamento de alguns casos. Quatro e-mails que
supostamente davam indícios do esquema foram encontrados
pelos investigadores. Imediatamente, o "News of the
World" afastou um de seus editores-assistentes, Ian
Edmondson.
As mesmas suspeitas já haviam sido investigadas entre
2006 e 2009, sem que a polícia chegasse a maiores
conclusões, o que foi objeto de críticas de jornais como
o "Guardian". Na época, apenas Clive Goodman e Glenn
Mulcaire foram presos.
Rebekah Brooks também está no centro da polêmica. Ela
tem o apoio de Rupert Murdoch, que já disse que não irá
afastá-la do cargo, apesar da pressão da mídia.
O escândalo atingiu algum outro jornal do grupo
News International?
Documentos e gravações que vieram à tona na
segunda-feira, 11 de julho, indicam que o "Sunday Times"
e o "The Sun" poderiam ter tido acesso a dados
financeiros privados do ex-premiê britânico Gordon Brown
e ao histórico médico de seu filho, que sofre de fibrose
cística. Os dois jornais do grupo News Internacional
rejeitaram as acusações de que teriam obtido de forma
ilegal informações privadas sobre Brown e defenderam
seus métodos jornalísticos.
Qual foi a reação do governo?
Em 7 de julho, o primeiro-ministro David Cameron fez
severas críticas relacionadas ao caso. Cameron prometeu
uma investigação independente, assim que a Scotland Yard
concluir seu inquérito. O fato de Andy Coulson ter sido
porta-voz de Cameron também é motivo de polêmica.
Coulson renunciou ao cargo no início deste ano, antes de
ser detido. Fonte
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