MORREU ABDIAS DO NASCIMENTO
Morreu na noite desta segunda (23), no Rio de
Janeiro, o ativista do movimento negro Abdias do
Nascimento, 97. Ex-deputado, secretário estadual e
senador, Abdias foi também pintor autodidata, escritor,
jornalista, poeta e ator.
Ele estava internado desde 15 abril no
Hospital do Servidor do Rio de Janeiro e morreu de
insuficiência cardíaca, segundo a assessoria de imprensa do
hospital. Segundo Ivanir dos Santos, conselheiro do Ceap
(Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) e amigo
pessoal de Abdias, o ativista foi internado por complicações
de diabetes. Ainda não há informação sobre o horário do
enterro.
Sua defesa dos direitos humanos dos afrodescendentes
lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz em 2010.
Em março deste ano, esteve entre as lideranças negras
convidadas para o encontro com o presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama, no Rio de Janeiro.
Na ocasião, Nascimento afirmou : "a visita do Obama é
importantíssima para aprofundar as relações entre o
Brasil e os EUA. O fato deles terem eleito um presidente
negro é uma lição para o Brasil".
Foi dele a sugestão de instituir, em São Paulo, o Dia
da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro desde
2006.
POLÍTICA
Abdias do Nascimento foi o primeiro deputado federal
do país a se dedicar à defesa dos direitos dos
afro-brasileiros, de acordo com o PDT, sigla que o
ativista representou no Congresso. Ele assumiu o cargo
em 1983, eleito pelo Rio de Janeiro. Em seu mandato de
quatro anos, segundo dados da Ipeafro (Instituto de
Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros), foi de autoria de
Nascimento o primeiro projeto de lei de políticas
públicas afirmativas da história do Brasil.
O ativista também foi suplente de antropólogo Darcy
Ribeiro no Senado e assumiu a cadeira entre 1991 e 1992
e de 1997 a 1999.
Abdias nasceu em 14 de março de 1914 na cidade de
Franca, localizada no interior de São Paulo, a 400 km da
capital. Filho de uma doceira e de um sapateiro, viveu a
maior parte da vida no Rio de Janeiro, onde se formou em
economia.
Começou a militar na década de 30, quando ingressou
na Frente Negra Brasileira. Em uma viagem pela América
do Sul com um grupo de poetas, assistiu a um espetáculo
onde um ator branco pintava o rosto para interpretar um
negro.
O episódio marcou Abdias e o levou a fundar o Teatro
Experimental do Negro, em 1994, após ter cumprido pena
na penitenciária do Carandiruo, preso pelo governo de
Getúlio Vargas por resistir a agressões racistas.
O Teatro Experimental do Negro formou a primeira
geração de atores e atrizes afrodescendentes do Brasil,
e também contribuiu para a criação da literurgia
dramática afro-brasileira.
Abdias se encontrava nos Estados Unidos quando o
regime militar promulgou o Ato Institucional nº 5 e, por
causa de diversos inquéritos policiais dos quais era
alvo, foi impedido de retornar ao Brasil.
Seu exílio durou 12 anos.
Além do Teatro Experimental do Negro, o legado de
Abdias inclui também o Ipeafro, fundado por ele em 1981,
o jornal "Quilombo", criado em 1968 e mais de 20 livros
publicados durante várias décadas.
Além da indicação ao Prêmio Nobel da paz --que ele
afirmou nunca esperar vencer, em entrevista exclusiva à
Folha, em 2010--, Abdias recebeu honrarias dos Estados
Unidos, Nigéria, México, Unesco e ONU. No Brasil,
recebeu das mãos do então presidente Luiz Inácio Lula da
Silva a Ordem do Rio Branco, no grau de Comendador --a
honraria mais alta outorgada pelo governo brasileiro. Fonte
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