GADAFI AUTORIZA CHÁVEZ A
MEDIAR CONFLITO
O chanceler da Venezuela Nicolás Maduro leu uma carta
recebida de seu colega líbio, Mousa Kousa, em reunião
nesta sexta-feira em Caracas, indicando que o regime de
Muammar Gaddafi pede ao governo de Hugo Chávez que tome
as medidas necessárias para criar uma comissão
internacional que atue no país.
"Estão autorizados a tomar todas as medidas
necessárias para selecionar os integrantes e coordenar sua
participação nesse diálogo", indicou Maduro em meio à
reunião da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) na
capital venezuelana.
Ainda na noite de quinta-feira (3), Chávez reafirmou
que Gaddafi aceitara sua proposta de envio de missão de
uma missão internacional de paz à Líbia.
"Consegui falar com Gaddafi anteontem por um momento
(...) e perguntei: 'Está disposto a receber uma comissão
de países?' E ele respondeu: 'Olha, Chávez, não apenas
os países, que venha inclusive a ONU, para ver o que na
verdade está ocorrendo aqui'."
O líder venezuelano advertiu que o "petróleo pode
superar os U$ 200" o barril caso o conflito na Líbia se
transforme em uma "guerra internacional", como ocorreu
no Iraque em 2003. "E isto não convém a ninguém no
mundo".
O ditador líbio "não vai partir, sei que não vai, e
por isso estão planejando matar Gaddafi", disse Chávez,
lembrando que o líder e sua família já foram alvo de
ataques no passado.
PETRÓLEO
Na segunda-feira Chávez já havia afirmado que uma
invasão da Líbia seria "uma catástrofe" e acusou os
Estados Unidos de estarem "enlouquecidos" pelo petróleo
do país.
"Os Estados Unidos já disseram que estão prontos para
invadir a Líbia. E quase todos os países da Europa
condenando à Líbia, o que querem? Claro, esfregam as
mãos com o petróleo da Líbia", disse Chávez.
Em um ato público, o presidente venezuelano disse que
não iria "condenar à distância o líder líbio" sem saber
o que está ocorrendo na nação africana, dizendo ter a
certeza de que os Estados Unidos "estão exagerando e
distorcendo" a realidade do que ocorre na Líbia.
WASHINGTON
Ainda ontem (3), os EUA reagiram à proposta
venezuelana descartando apoiarem tal iniciativa. O
porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip J.
Crowley, afirmou que "não é necessário que uma comissão
internacional diga ao coronel Gaddafi o que precisa
fazer para o bem de seu país e a segurança de seu povo".
Os EUA também admitiram na quinta-feira que Gaddafi
usou, de fato, aviões em ataques contra a população
civil e o presidente americano Barack Obama voltou a
pedir ao ditador que renuncie. Gaddafi, por sua vez,
alertou para um "novo Vietnã" caso haja interferência
externa.
CONFRONTOS EM ZAWIYAH
As negociações entre a Líbia e a Venezuela chegam
horas após a confirmação de ao menos 18 mortos em
violentos confrontos na cidade de Zawiyah, próxima à
capital Trípoli, que há dias está sob controle dos
rebeldes.
O governo líbio espera retomar o poder no local ainda
nesta sexta-feira.
De acordo com a agência de notícias Associated Press,
testemunhas relataram que ao menos 18 pessoas morreram.
No entanto, segundo fontes ouvidas pela Reuters, 30
pessoas foram mortas.
"Estive no hospital há menos de 15 minutos. Dezenas
morreram e outros ficaram feridos. Contamos 30 civis
mortos. O hospital estava lotado. Eles não conseguiam
achar um espaço para as vítimas", disse Mohamed, que
mora em Zawiyah, à Reuters por telefone.
Entre os mortos está o líder dos rebeldes em Zawiyah,
informou um porta-voz do grupo.
Mais cedo, forças leais a Gaddafi atiraram bombas de
gás lacrimogêneo contra manifestantes antigoverno que se
reuniram em Trípoli, aparentemente sufocando tentativas
de reviver demonstrações pedindo a renúncia do
mandatário na capital. Ao mesmo tempo, rebeldes
prometendo "vitória ou morte" entraram em confronto com
partidários do líder nas proximidades de uma importante
instalação de petróleo no leste do país.
Após as orações do meio-dia, mais de 1.500 pessoas
saíram da mesquita de Murad Agha, no distrito de Tajoura,
leste de Trípoli, gritando "O povo quer derrubar o
regime" e agitando a bandeira vermelha, preta e verde da
monarquia pré-Gaddafi, adotada como o símbolo da
revolta.
Mas forças pró-regime rapidamente apareceram em um
comboio de 14 veículos esportivos.
"Eles atiraram bombas de gás lacrimogêneo. As pessoas
estão assustadas", afirmou um repórter da agência de
notícias Reuters que estava em Tajoura no momento do
confronto.
Testemunhas também disseram que as forças pró-Gaddafi
atiraram usando munição real, embora não tenha ficado
imediatamente claro se os disparos foram feitos para o
alto ou diretamente contra os manifestantes.
REPRESSÃO
O episódio evidencia o forte controle que Gaddafi
mantém em Trípoli --um grande contraste com o resto do
país. Todo o leste do território líbio caiu nas mãos dos
rebeldes, assim como várias cidades no oeste próximas ao
bastião do ditador na capital.
Os rebeldes --forças formadas por moradores armados
apoiados por algumas unidades desertoras do Exército--
têm repelido repetidos ataques de forças pró-Gaddafi que
tentam retomar o controle do território.
APOIADORES
Mas dezenas de partidários de Gaddafi realizaram uma
demonstração na praça Verde, centro de Trípoli, agitando
bandeiras verdes.
Antes dos protestos planejados para esta sexta, o
serviço de internet --que tem sido irregular desde que a
revolta líbia teve início-- aparentou ter parado de
funcionar completamente.
Autoridades líbias impediram, por algum tempo, que
jornalistas estrangeiros deixassem o hotel em que estão
hospedados em Trípoli, alegando que era para a própria
segurança deles, já que o governo tinha informações de
que "elementos da Al Qaeda" planejavam abrir fogo contra
a polícia para dar início a confrontos. Mais tarde eles
foram permitidos a sair.
No leste, rebeldes avançaram em direção ao importante
terminal de petróleo de Ras Lanuf, a 600 quilômetros de
Trípoli, apelando para que forças aéreas estrangeiras
criem uma zona de exclusão aérea após três dias de
ataques de aviões do governo.
"Vitória ou morte! Não iremos parar até que liberemos
todo esse país", Mustafa Abdel Jalil, chefe do rebelde
Conselho Nacional Líbio, afirmou a partidários da
revolta, que já dura duas semanas.
Ahmed Jabreel, um auxiliar de Jalil, afirmou que se
houver qualquer negociação, "será sobre uma única
coisa-- quando Gaddafi irá deixar o país ou renunciar
para que possamos salvar vidas. Não há nada mais para
negociar". Fonte
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