Depois de forçar o recuo dos insurgentes das
cidades de Ajdabiya e Brega, a leste de Trípoli,
deixando a estrada livre para a invasão do reduto
rebelde de Bengasi, o ditador líbio Muamar Kadafi já
canta vitória. "Não restam esperanças para eles, é uma
causa perdida", afirmou, nesta terça-feira, ao jornal
italiano Il Giornale. "Os rebeldes têm
duas possibilidades: se render ou fugir", acrescentou o
ditador, que acusou os opositores de "usar os civis como
escudos humanos, inclusive as mulheres".
O estratégico porto petrolífero de Brega foi
retomado, nesta terça-feira, após uma manhã de combates
em que a lideraça no território mudou várias vezes de
mãos. O controle de Ajdabiya, na encruzilhada de duas
rodovias, voltou para os seguidores de Kadafi depois de
um bombardeio pesado de forças terrestres. Pelo menos um
míssil atingiu uma área residencial e o ataque levou
civis a fugirem pela estrada, em direção a Bengasi e
Tobruk, que ainda estão sob controle rebelde.
Estrada aberta - As forças de Kadafi
avançam de forma constante pela costa leste para retomar
cidades controladas pelos rebeldes desde o início do
levante. A estratégia
forçou os opositores a recuar mais de 160
quilômetros, em uma contraofensiva que já dura uma
semana. A retirada de Ajdabiya derrubou o único
obstáculo para o avanço das tropas do governo em direção
à Bengasi.
Na manhã desta terça, a televisão Al Jazira informou
que unidades de elite do Exército comandadas pelos
filhos de Kadafi estavam a caminho de Brega, sugerindo
que o ditador quer esmagar a insurreição contra seu
governo, que já dura um mês. Mal equipados, os rebeldes
são vencidos pelos tanques, artilharia e aviões de
guerra do Exército.
Banho de sangue - Sobre a
possibilidade de o conflito terminar em "banho de
sangue" nas cidades que ainda estão nas mãos dos
opositores, Kadafi afirmou que o objetivo é "combater o
terrorismo". "Por isso, avançamos tão rapidamente, para
evitar massacres", disse. "Se eles se renderem, não
vamos matá-los".
Kadafi descartou qualquer chance de negociação com as
forças insurgentes. "Dialogar? Com quem? Não é possível
negociar com terroristas próximos de Osama bin Laden.
Eles mesmos não acreditam no diálogo, pensam apenas em
combater e em matar, matar e matar". Para o ditador, a
população de Bengasi se submete aos rebeldes por medo.
"As pessoas nos pedem uma intervenção, nos dizem:
'libertem-nos dos grupos armados'", completou.
Europa - Kadafi não hesitou em dizer
que "a comunidade internacional não sabe o que acontece
de verdade na Líbia. O povo está comigo, o resto é
propaganda". O coronel disse ainda que está "muito
decepcionado" com a Europa - em particular com a Itália,
antiga potência colonial e maior sócio comercial da
Líbia, e seu primeiro-ministro, Silvio Berlusconi.
"Estou muito contrariado, me sinto traído. Não tenho
mais contatos com Berlusconi", afirmou.
Em outra entrevista, para a emissora alemã RTL, que
deve ser transmitida ainda nesta terça, o ditador
afirmou que seu "bom amigo" Nicolas Sarkozy, presidente
da França,
"ficou louco". "Ele é meu amigo, mas acho que ele ficou
louco", disse. "Isso é o que dizem as pessoas que estão
próximas dele. Seus auxiliares dizem que ele está
sofrendo de uma doença psicológica". A
França
recentemente pediu que sejam realizados ataques aéreos
contra as forças de Kadafi e atuou para reconhecer a
oposição como a única representante legítima do povo
líbio.
EUA - Os Estados Unidos também
anunciaram nesta terça-feira que ampliaram suas sanções
contra o chanceler líbio Musa Kusa e 16 empresas
públicas do país, aumentando a pressão para "isolar o
regime" de Kadafi. Kusa, ex-chefe da agência de
inteligência líbia, já era alvo de sanções por um
decreto que atinge altos funcionários do governo. Fonte