Depois que a Anvisa (Agência de Vigilância
Sanitária) anunciou a intenção de proibir o uso de
remédios para emagrecer, as dúvidas sobre esses
medicamentos triplicaram. "Todas as pessoas que vão
começar a tomar (ou tomam) um remédio para emagrecer
devem saber é que não existe fórmula mágica, e que
nenhum remédio sozinho traz uma perda de peso
satisfatória", explica a endocrinologista Vânia dos
Santos Nunes, da Unesp. De um lado, especialistas
defendem que os remédios ainda são uma arma eficiente
contra a obesidade. Do outro, há o time que condena o
uso indiscriminado e os malefícios que essa drogas podem
causar.
Segundo um recente relatório divulgado pelo
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, os
remédios para emagrecer devem ser usados, mas apenas
tratamentos médicos. O relatório elaborado pela Jife (Junta
Internacional de Fiscalização de Entorpecentes) incentiva o
Brasil a continuar adotando "todas as medidas necessárias
para que os anorexígenos sejam utilizados unicamente para
fins médicos, bem como para impedir que sejam utilizados de
forma indevida e receitados indiscriminadamente".
O primeiro passo para entender a polêmica dos emagrecedores
é saber mais sobre eles. A seguir, o Minha Vida,
junto com as endocrinologistas Glaucia Duarte e Vânia dos
Santos, esclarecem as principais dúvidas sobre os tais
remédios polêmicos. 1.Quais são os tipos de
remédios para emagrecer? Como eles agem no organismo?
Existem três principais grupos de remédios para emagrecer:
os anorexígenos, os sacietógenos e os inibidores de absorção
de gorduras. Os medicamentos do primeiro grupo inibem o
apetite, e tem em sua composição de substâncias conhecidas
como anfetaminas. São exemplos deles a anfepramona, o
femproporex e o manzidol. "Atualmente, os especialistas
utilizam essa classe apenas quando as outras duas não
obtiveram sucesso, já que ela apresenta mais riscos de
efeitos colaterais", diz a endocrinologista Gláucia Duarte,
membro da membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia.
O segundo grupo (sacietógenos) reúne os medicamentos que
agem no estímulo da sensação de saciedade, ou seja, o
indivíduo sente fome, mas com uma porção menor de alimentos
fica satisfeito, parando de comer mais cedo. A sibutramina é
a mais conhecida do grupo, e que pode ter ação secundária
para o emagrecimento: o aumento do gasto energético.
O terceiro grupo é o dos inibidores da absorção de gordura,
representado apenas pelo Orlistat e o Cetilistate. Não
restringe o apetite, pois não atuam no cérebro ou no sistema
nervoso. "Eles atuam na inibição da absorção intestinal de
cerca de 30% da gordura ingerida. Com um bom controle de
ingestão de gorduras, podem representar uma ajuda
significativa, mas, ao comer demais, a tendência é não
perder peso, porque os 30% de gorduras que deixam de ser
absorvidas podem não ser uma deficiência calórica suficiente
para a perda de peso", diz a endocrinologista.
2.Em que
casos eles devem ser usados? Eles são válidos tanto
para sobrepeso como para a obesidade?
Todos os tipos de medicamentos para emagrecer só
devem ser usados quando a adoção de uma alimentação
mais saudável e a prática de exercícios físicos não
mostraram resultado na perda de peso. "Quando o
índice de massa corpórea (IMC) continua superior a
29,9 após o tratamento com reeducação alimentar, é
indicado o uso de remédios para ajudar no processo
de emagrecimento", diz a endocrinologista Vânia dos
Santos. Para descobrir o índice de massa corpórea,
basta dividir o seu peso em quilogramas pelo
quadrado de sua altura. Calcule seu peso ideal aqui.
Tabela de IMC segundo a Organização mundial
da saúde
Abaixo do peso - abaixo de 18,5
Normal - de 18,6 a 24,9
Sobrepeso (pré-obesidade) - de 25 a 29,9
Obesidade leve- 30 a 34,9
Obesidade moderada - 35 a 39,9
Obesidade grave ou mórbida - acima de 40
3.Quais
são os possíveis efeitos colaterais?
Mesmo que esses remédios sejam seguros se usados da
maneira correta, eles podem causar uma série de
efeitos colaterais. "Cada tipo de medicação contra
obesidade tem efeitos colaterais específicos, que
também variam de acordo como metabolismo de cada
individuo", explica a endocrinologista Glaucia
Duarte.
Os anorexígenos (anfepramona, femproporex, mazindol),
podem causar irritabilidade, insônia ou sono
superficial, tremores, depressão ou se alternam
períodos de estímulo com períodos de depressão,
aumento da pressão arterial e da frequência
cardíaca. "Todos esses efeitos estão ligados ao
sistema nervoso e cardiovascular, áreas onde os
anorexígenos têm efeito", diz Glaucia Duarte.
Já os sacietógenos, que aumentam a sensação de
saciedade, normalmente apresentam efeitos colaterais
mais suaves que os anfetamínicos, causando insônia
ou sono superficial, agitação, irritabilidade (que
não é um sintoma frequente). Mesmo assim a
sibutramina, que se enquadra nesse grupo, foi
proibida de ser comercializada nos Estados Unidos e
na Europa por que os órgãos responsáveis alegaram
que o medicamento acelera a frequência cardíaca,
provocando arritmias em quem já tem a propensão de
doenças cardíacas. No Brasil, a sibutramina foi
enquadrada na categoria de remédio controlado.
Os inibidores da absorção de gorduras apresentam
efeitos colaterais principalmente se a ingestão de
gorduras for exagerada. É como um sinal vermelho. "A
pessoa apresentará diarreia com fezes pastosas ou
líquidas, podendo até eliminar gotas de gorduras
depois de refeições mais pesadas. Por isso, mesmo
tomando remédios para emagrecer, é preciso ter uma
alimentação balanceada e saudável", diz a
endocrinologista Vânia dos Santos Nunes.
4.Crianças com quadro de
obesidade podem tomar remédios para emagrecer?
A indicação de remédios para emagrecer deve ser
restrita, sendo prescrita nos casos em que a obesidade
se tornou um fator de risco. De acordo com Vânia dos
Santos, a reeducação alimentar e a prática de atividades
físicas normalmente sozinhas conseguem trazer uma
melhora considerável na saúde de crianças obesas e
adolescente com menos de 16 anos. No entanto, às vezes o
uso de remédios é necessário. "O uso de oslistat, um
tipo de remédio que diminui a absorção de gordura pelo
intestino, já foi testado e aprovado em crianças. Já os
medicamentos que agem no sistema nervoso central ainda
não têm total aprovação em crianças e adolescentes", diz
Gláucia Duarte. E não é à toa. Se eles já provocam
efeitos desagradáveis no corpo de um adulto, imagine
para as crianças.
5.Esse
tipo de remédio tem alguma contra-indicação?
Por causar alterações no funcionamento do sistema
nervoso e do sistema cardiovascular, os remédios
anorexígenos e os sacietógenos não devem ser usados
por pessoas com hipertensão arterial descompensada,
arritmias cardíacas, diabetes do tipo 2, doenças
psiquiátricas (depressão e transtornos do humor,
impulsos compulsivos) e glaucoma.
"Mesmo que as principais contra-indicações estejam
relacionadas aos sacietógenos e aos anorexígenos, os
remédios que diminuem a absorção de gorduras também
apresentam um grupo de risco, que são os pacientes
com doenças inflamatórias intestinais",diz
a endocrinologista Vania dos Santos.
6.O uso
prolongado pode causar dependência (física ou
psicológica)?
Mesmo que o grau de dependência seja baixo (possuem
nível um em uma escala que vai até quatro), os
medicamentos para emagrecer podem causar dependência
física e psicológica se forem usados por um período
muito longo, (mais de quatro meses sem novas
avaliações). "Como esses medicamentos só devem ser
usados em último caso e ainda sim como apoio a um
programa de reeducação alimentar e prática de
atividades físicas, depois que o paciente não se
encontra mais em um quadro de obesidade, o uso dos
remédios deve ser interrompido", diz Vânia dos
Santos
7.Eles
precisam ser tomados constantemente para que o peso
se mantenha sob controle?
"Na verdade, eles devem ser usados por um período
curto, (o médico faz uma nova avaliação mensal se o
remédio continua necessário), para não provocar
nenhum grau de dependência", diz Vânia dos Santos.
Os medicamentos para perder peso devem fazer parte
do tratamento para perder peso, e não para mantê-lo
baixo. De acordo com a endocrinologista, a
manutenção da boa forma deve ser feita a partir de
uma alimentação saudável e de prática de exercícios
físicos. Caso contrário, as chances de recuperar o
peso novamente são enormes. É o famoso efeito
sanfona.
8.Se
parar de tomar engorda o dobro?
De acordo com as endocrinologistas, quem emagrece
com ajuda de medicamentos que agem no sistema
nervoso central realmente recuperam todo a gordura
perdida se não se preocupam com a alimentação e com
a prática de atividades físicas após o fim do
tratamento.
9.É perigoso tomá-los e fazer exercícios
intensos por causa da frequência cardíaca?
Assim como a alimentação, a prática de exercícios
físicos deve ser controlada após a prescrição de
remédios para emagrecer "Usualmente os educadores
físicos sugerem o teste de esforço antes de iniciar
a atividade física. O ideal é que se mantenha um
acompanhamento das variações da frequência cardíaca
para diagnosticar quaisquer alterações", diz Glaucia
Duarte.
10.Eles
causam sudorese excessiva?
Os remédios termogênicos, um tipo de substâncias que
agem principalmente aumentando o gasto calórico do
organismo pode causar esse efeito colateral em
algumas pessoas. Mas, por razões de segurança e
efeitos colaterais (aumento de frequência cardíaca,
aumento da pressão arterial, aumento da termogênese),
esse tipo de remédio tem sido pouco utilizado.
11.Seus resultados são melhores do que a reeducação
alimentar e a prática de exercícios físicos?
O uso da medicação apenas pode facilitar a perda de
peso, mas, se não houver mudanças do estilo de vida
há chances de retomada do peso perdido. "O remédio
sozinho não irá trazer resultados positivos. É
preciso controlar a alimentação e praticar
atividades físicas juntamente com a medicação para
conseguir perder peso", diz Vânia dos Santos.
12.Eles aceleram o metabolismo?
De acordo com Vânia, as pessoas com obesidade tendem
a ter o metabolismo mais lento, e por isso, o corpo
demora a consumir toda a energia que foi acumulada
pelas refeições. O que alguns remédios causam, como
efeito secundário, é aumentar o gasto calórico. A
não ser remédios para tireoide, que não são
indicados para casos de obesidade, os medicamentos
para emagrecer não afetam o funcionamento de nosso
metabolismo.
13.Como
garantir que a prescrição médica dos remédios é a
mais indicada para o "meu" caso?
De acordo com as nutricionistas, a melhor maneira de
se proteger de um erro de prescrição médica é
procurar apenas profissionais qualificados e
indicados por outros médicos de confiança. Outra
dica é sempre procurar ouvir uma segunda opinião.
14.Qual o perigo de tomar aquelas fórmulas
manipuladas que fazem um coquetel de drogas? Nesse
caso, o mais indicado é o remédio comprado na
farmácia?
Como esse tipo de medicamento pode trazer muitos
efeitos colaterais, os médicos preferem medicações
dos laboratórios, que são vendidas nas farmácias
comuns. "O médico não tem como prever quais os
efeitos colaterais que uma fórmula manipulada pode
trazer ao paciente. Por isso, bons médicos sempre
receitam medicações para emagrecer de laboratórios
consagrados, que passam por teste de qualidade",
explica Vânia dos Santos.
15.Eles
são diuréticos?
"A maioria dos remédios para emagrece também possuem
diuréticos para aumentar a perda de líquidos no
corpo, e assim, aumentar a sensação de
emagrecimento", diz Gláucia.
16.A perda de peso é ilusória, ou seja perdemos mais
massa magra do que gordura?
Um processo de emagrecimento rápido sem a
preocupação com atividades física ou alimentação
para manter a massa magra tendem a não se
sustentarem. Nesse caso, há perda de músculos sim.
"A perda de peso dimensionada num tratamento
completo, com reeducação alimentar e exercícios
físicos, garante a troca de massa gorda por massa
magra", explica Glaucia Duarte.
17. Ao
passar do tempo o corpo acostuma com o remédio e com
as dosagens? Quem toma remédio por muito tempo tem
mais dificuldade de emagrecer sem ele depois?
Com o passar do tempo, especialmente com as
anfetaminas, o organismo pode desenvolver
tolerância, ou seja, necessitar do aumento da dose
para que o efeito seja o mesmo. "Muito provavelmente
quem se torna um dependente químico de anfetaminas,
espera um jeito fácil de perder peso, sem o
comprometimento com a reeducação alimentar e
exercícios físicos, o que dificulta a
sustentabilidade do peso perdido", alerta Glaucia
Duarte. Fonte