Existem hoje cerca de 16 milhões de armas em
circulação no Brasil, das quais 47,6% estão na
ilegalidade, o que dá 7,6 milhões de unidades, em poder
de civis e bandidos. Com 34,3 mil homicídios ao ano, o
país é campeão mundial em números absolutos de mortes
por armas de fogo.
Os dados fazem parte de um levantamento nacional,
divulgado hoje pelo Ministério da Justiça, como ponto de
partida para retomada da campanha nacional pelo
desarmamento, a ser mantida no futuro governo. "A posse
de armas não socorre o cidadão, só gera mais violência e
crime", afirmou o ministro Luiz Paulo Barreto.
O estudo, produzido pela ONG Viva Rio, em parceria
com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp),
servirá de subsídios para focar a intervenção do poder
público nos Estados onde há maior descontrole de armas,
considerado o fator que mais contribui para a violência
urbana.
A pior situação, conforme ranking montado pela ONG, é
a dos Estados de Rondônia, Sergipe e Amapá. Foram
levados em conta o cuidado no depósito das armas, o
gerenciamento no seu controle e a produção de
informações confiáveis sobre quem tem, onde estão e como
são usadas as armas. Os melhores avaliados foram São
Paulo, Distrito Federal e Rio de Janeiro.
Conforme o estudo, de cada dez armas apreendidas no
Brasil, oito são fabricadas no País e apenas duas vêm de
fora. "Isso desmente a falsa impressão de que a maioria
das armas ilegais é de fabricação estrangeira", explicou
Antônio Rangel, diretor do Viva Rio. Entre as armas de
origem estrangeiras, 59,2% são oriundas dos Estados
Unidos, conforme cadastro do Sistema Nacional de Armas (Sinarm),
controlado pelo Exército e a Polícia Federal.
O segundo mercado fornecedor é a Argentina (16,7%),
seguido de Espanha (6,9%), Alemanha (6,4%) e Bélgica
(4,1%). "Na realidade, a arma brasileira - pistolas e
revólveres - é a arma dos bandidos", explicou Rangel,
para quem é mito achar que fuzis russos e israelenses
são os grandes armamentos do crime. "Isso pode ocorrer
apenas em territórios do tráfico no Rio, mas é exceção".
Violência
O trabalho da ONG envolve cinco estudos sobre
diferentes aspectos do armamentismo no Brasil. Um deles
traz a análise de 340 mil armas apreendidas no País de
1982 a 2008, com o objetivo de mapear as fontes que
abastecem o crime organizado e a violência urbana. O
estudo mostra que em apenas um ano, foram roubadas 27
mil armas de civis.
Outra fonte regular de suprimento são policiais
civis, militares e bombeiros, que têm direito a adquirir
três armas por ano a preço de fábrica. "Compramos armas
para nos defender e acabamos armando os bandidos",
enfatizou o ministro. O Rio Grande do Sul é o campeão em
população civil armada. "Há uma cultura de glorificação
da arma, fruto de uma mentalidade rural atrasada",
observou Rangel.
O estudo constatou que boa parte das armas
apreendidas, mesmo tendo sido compradas em países
vizinhos, como Paraguai, são na verdade produzidas no
Brasil. No Mato Grosso do Sul, que faz fronteira com o
Paraguai, 28,3% das armas apreendidas eram fruto de
exportação de fabricantes brasileiros. "É um efeito
bumerangue: a arma sai legalmente do País e volta para
matar brasileiros", explicou o diretor da Viva Rio.
Um dos estudos mostra que na maior parte dos Estados
as armas são pessimamente custodiadas em depósitos
caóticos. Muitas vezes elas são esquecidas em gavetas,
velhos armários ou ficam abandonadas em algum canto nas
delegacias ou fóruns de Justiça. "Maus policiais se
aproveitam do controle precário para mandar essas armas
de volta às ruas, vendidas ou alugadas a bandidos",
afirmou Rangel.