Descoberto gene vinculado a
130 doenças cerebrais
PARIS (AFP) - Cientistas anunciaram a
descoberta de uma série de proteínas que desempenham um
papel crítico no desenvolvimento de mais de 130 doenças
cerebrais.
O estudo, divulgado no domingo, também ressalta um
vínculo surpreendente entre três doenças - inclusive os
males de Alzheimer e Parkinson - e a evolução do
comportamento humano, afirmaram.
O cérebro humano é um labirinto de milhões de células
nervosas especializadas, interconectadas por bilhões de
sinais eletroquímicos, denominados sinapses.
Entre estas sinapses estão proteínas que se combinam,
formando uma máquina molecular conhecida como densidade
pós-sináptica ou PSD (na sigla em inglês), que se
acredita que interrompa o funcionamento sináptico,
provocando doenças e mudança de comportamento.
Em artigo publicado na revista Nature Neuroscience,
Seth Grant, do Instituto Wellcome Trust Sanger, da
Grã-Bretanha, conduziu uma equipe que extraiu as PSDs
das sinapses de pacientes que se submeteriam a cirurgia
cerebral.
"Nós descobrimos que 130 doenças cerebrais se
vinculam com a PSD, muito mais que o esperado", disse
Grant. "A PSD humano está no estágio central de um largo
espectro de doenças humanas que afetam milhões de
pessoas", acrescentou.
Além de problemas comuns e neurodegenerativas
debilitantes, estas doenças incluem epilepsias e doenças
do desenvolvimento infatil, como o autismo.
As PSDs identificadas até agora vêm das combinações
de 1.461 proteínas, cada uma codificada por um gene
separado.
"Nós agora temos uma lista abrangente de 1.000
suspeitas", acrescentou Jeffrey Neobels, professor do
Baylor College de Medicina, no Texas, em comentário no
estudo.
"Cada sétima proteína nesta relação está vinculada a
uma doença clínica conhecida e cerca da metade é
reincidente", acrescentou.
As descobertas abrem alguns novos caminhos para o
combate a estas doenças, inclusive melhores
diagnósticos, afirmaram os autores.
Para ajudar a acelerar esta meta, os cientistas
divulgaram todos os dados em domínio público e criaram o
primeiro "mapa do caminho molecular" para as sinapses
humanas, demonstrando como as proteínas e as doenças se
interconectam.
"Também podemos ver caminhos para desenvolver novos
testes de diagnósticos genéticos e ajudar os médicos a
classificar as doenças cerebrais", afirmou Grant.
O estudo também revelou, de forma inesperada, que as
proteínas nas PSDs têm profundas raízes evolutivas e
desempenham um papel indireto em comportamentos
cognitivos tais como leitura e memória, emoção e humor.
Em comparação com outras proteínas codificadas por
genes, as proteínas PSD evoluem muito lentamente.
"A preservação da estrutura destas proteínas sugere
que os comportamentos governados pela PSD e as doenças
associadas a elas não mudaram muito ao longo de milhões
de anos", disse Grant.
O estudo também demonstra que as sinapses em roedores
são mais similares às dos humanos do que se pensava
anteriormente, sugerindo que camundongos e ratos são
bons modelos para examinar doenças cerebrais humanas,
acrescentou.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as
doenças e distúrbios cerebrais são a causa principal de
incapacidade médica no mundo desenvolvido.
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