Mundo se reúne em Cancún
para rediscutir luta contra mudanças climáticas
CANCÚN, México (AFP) - A conferência das Nações
Unidas sobre as mudanças climáticas, inagurada nesta
segunda-feira em Cancún (leste do México), abriu 12 dias
de conversações destinadas a devolver a credibilidade a
um processo de negociação internacional debilitado pelo
fracasso em Copenhague, no ano passado.
Dos mais de 190 países-membros da Convenção-quadro
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na
sigla em inglês), as delegações de 132 nações estavam
presentes na abertura, organizada em um luxuoso hotel do
balneário mexicano, onde as negociações serão celebradas
até 10 de dezembro.
"Quem os recebe é um país que, como todos os da
região, é um dos que mais sofrem com os efeitos das
mudanças climáticas", afirmou, em sua mensagem de
boas-vindas, o presidente do México, Felipe Calderón, em
alusão à grave temporada de chuvas e furacões que o país
sofreu este ano, depois de ter registrado, em 2009, a
pior seca em mais de meio século.
"As mudanças climáticas já são para nós uma realidade
e estão tendo gravíssimas consequências para nós e para
o planeta", afirmou Calderón, referindo-se às dramáticas
inundações que devastaram parte do Paquistão e a onda de
calor e de incêndios florestais sem precedentes que a
Rússia viveu no verão boreal.
São "fenômenos que afetam mais aos mais pobres e os
tornam ainda mais pobres", ressaltou.
"Continuamos presos a um falso dilema: ou combatemos
as mudanças climáticas ou a pobreza em que vivem muitos
dos nossos povos", afirmou. "Mas é um falso dilema
porque é perfeitamente possível reduzir as emissões de
gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, sustentar o
crescimento econômico", acrescentou.
"A chave para resolver este problema é fechar as duas
brechas ao mesmo tempo: a da natureza e a da pobreza",
assegurou. "Este caminho existe e devemos explorá-lo
entre todos", acrescentou.
"Por isso, durante as próximas duas semanas, aqui em
Cancún, os olhos do mundo estarão sobre vocês", disse
presidente mexicano aos negociadores presentes.
O presidente do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o
indiano Rajendra Pachauri, pediu aos países presentes
para "cooperar o mais rápido possível" para levar
adiante a luta contra as alterações no clima e a
adaptação a suas consequências inevitáveis.
"Precisamos tecer uma teia de esforços muito mais
rica, um tecido cheio de buracos não funcionará e os
buracos só podem ser preenchidos com acordos",
considerou, por sua vez, a costarriquenha Christiana
Figueres, secretária executiva da UNFCCC.
A conferência do ano passado, em Copenhague, deveria
forjar um acordo para prosseguir e melhorar a luta
mundial contra o aquecimento global a partir de 2012,
ano em que expiram os compromissos do Protocolo de Kioto.
No entanto, a conferência dinamarquesa terminou com a
adoção de um decepcionante texto não vinculante,
negociado na última hora por um punhado de chefes de
Estado, que propôs limitar a elevação da temperatura no
planeta a dois graus Celsius, sem detalhar os meios de
consegui-lo.
Um novo fracasso este ano seria fatal para o
processo. Organizadores e negociadores estão decididos a
obter resultados que, embora não se concretizem na forma
de um tratado internacional, consigam avanços com vistas
à próxima conferência em Durban (África do Sul),
prevista para o fim de 2011.
No entanto, alguns dos participantes já expressaram
preocupação de que Cancún siga a dinâmica de Copenhague,
cujo resultado foi repudiado por vários países - entre
eles Bolívia, Venezuela e Cuba - por não ter sido
negociado por todas as nações.
Diferente de Copenhague, a conferência de Cancún não
espera a participação dos grandes líderes mundiais. O
presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que
havia anunciado sua presença, informou esta
segunda-feira que não irá ao México "devido à pesada
agenda interna que precisa cumprir" no Brasil antes de
passar a faixa presidencial à sua sucessora, Dilma
Rousseff, em 1º de janeiro.
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