SÃO PAULO – Amber Ale, American Strong Ale,
Baltic Porter, Bock, Dunkel, Gose, Happoshu, Kölsch,
Foreign Stout, Malt Liquor, Porter, Rauchbier, Sahti,Vienna
e Wood-Aged Beer: no mundo inteiro existem mais de 200
tipos de cerveja.
Ao contrário do que a maioria das pessoas acredita,
cerveja não é "tudo a mesma coisa" e nem todas são do
estilo Pílsen, o mais popular no Brasil. Cada uma possui
um ingrediente, um método de produção, algo que a
diferencia essencialmente das demais.
E é justamente a particularidade dos variados estilos
de cerveja que faz com que os valores das garrafas
cheguem a ultrapassar os custos de um whisky, por
exemplo. "O preço depende de diversos fatores, como as
matérias-primas especiais e tempos de fabricação
prolongados. Podemos incluir também, em alguns casos, os
custos de importação e distribuição", explica Paulo
Schiaveto, mestre-cervejeiro formado em Louvain-la-Neuve,
na Bélgica.
Detalhes que fazem a diferença De um modo geral, existem quatro ingredientes
básicos para a produção de uma cerveja: a água (costuma
entrar duas vezes no processo de produção), a levedura
(fermento natural), lúpulo (responsável pelo amargor) e
o malte (extrato de cereal que pode ser de cevada,
trigo, defumada, etc).
Porém, cada bebida é feita através de um método
próprio, que pode demandar muito tempo para concluir o
processo, e que inclui ingredientes extras ou não. "A
cerveja Premium, por exemplo, leva outros tipos de
ingredientes que costumam ser importados, o que no
mínimo vai dobrar o valor dessas bebidas", diz Marcelo
Ponci, dono do e-commerce Cerveja Gourmet.
Outro exemplo do diferente uso de ingredientes é a
Puro Malte. "As produções em grande escala usam o mínimo
de malte de cevada exigido por lei, que é 50%, e
completam com outros cereais mais baratos, como milho,
sorgo e arroz", explica Ponci. "A Puro Malte, por sua
vez, usa 100% de malte de cevada".
"O que é mais fácil e mais barato de fazer, uma
feijoada ou o feijão do dia a dia?", compara a beer
sommelier Cilene Saorin, formada em Doemens Akademie, na
Alemanha. "Isso não significa que a qualidade dos
ingredientes usados no feijão sejam inferiores. Mas
diferem no tipo e quantidade".
Assim, outros fatores que influenciam no preço é a
importação, que faz com que o valor das cervejas chegue
até 200% mais caro no mercado nacional, e também o
método de produção, como nos casos das cervejas que são
feitas em um lugar e maturadas em outro, ou das bebidas
maturadas em barris de carvalho.
Desembarque no Brasil, com escala na
Bélgica e França Para se ter uma ideia, a cerveja Deus Brut des
Flandres, uma das mais caras vendidas no Brasil, tem a
primeira fermentação e maturação na Bélgica. Depois as
garrafas vão para a França, recebem açúcares e fermentos
especiais, e então começa o processo de remuage:
gira-se a garrafa diariamente no mesmo horário,
aumentando sua inclinação para baixo até ficar de cabeça
para baixo. Após essa longa maturação, o fermento
depositado no pescoço da garrafa é congelado e retirado
por pressão. Então, a embalagem é completada com bebida
já pronta.
"É uma das três únicas cervejas no mundo produzidas
pelo processo de champenoise, ao lado da belga Malheur e
da brasileira Eisenbahn Lust. Primeiro elas são
produzidas em uma cervejaria e depois levadas a uma
vinícula, onde passam pelo mesmo processo de um
champagne", descreve a beer sommelier Khatia Zanatta,
formada pela escola alemã Doemens Akademie.
"O preço também varia em função da percepção de valor
pelo consumidor", acredita o mestre-cervejeiro Schiaveto.
"Algo equivalente a um vinho de produção restrita e
bastante procurado".
Não é a toa que a cerveja Deus pode ser encontrada em
estabelecimentos da capital paulista pelo custo de R$
220, no Bar Melograno, e R$ 249, no Bar Asterix (nele, a
cerveja mais cara vendida é a Chimay Grand Reserve
Jeroboam, cuja garrafa de 3L custa R$ 480).
Prazer no paladar e satisfação no bolso Embora alguns produtos tenham o custo elevado,
os especialistas concordam que é possível degustar e
apreciar uma cerveja mais em conta. Isso porque algumas
oferecem sensações sensoriais diversas, como notas
aromáticas frutais (de banana, maçã, abacaxi), notas
condimentadas (pimenta, cravo e canela), ou que seguem
por notas florais, herbais e outras mais densas.
"Há cervejas de baixo custo que proporcionam aromas e
sabores diferentes da cerveja industrial comum. Pequenas
cervejarias nacionais, por exemplo, têm produtos
premiados em concursos internacionais de forte expressão
a um preço bastante acessível", conta Schiaveto.
Marcelo Ponci, por sua vez, cita as cervejas da marca
Colorado, cuja garafa de 600ml pode ser encontrada por
R$ 10, e da Bauhaus, cuja garrafa de mesmo volume pode
ser encontrada por R$ 8, como exemplo de baixo custo
possível de ser degustado.
Amadurecimento gastronômico Para Cilene Saorin, o baixo consumo das
cervejas especiais não está atrelado simplesmente ao
preço desses produtos. Mas existe uma cultura nacional
de intenso consumo das bebidas do estilo Pílsen.
"Ela tem menos informação no nariz, menos amargor,
menos corpo. Tudo é muito delicado nela", descreve. A
grande proposta desse tipo de cerveja é mesmo a de matar
a sede, dar maresia aos olhos, refrescar, descontrair e
fazer com que o consumidor gaste o menos possível.
Segundo Cilene, a escolha por cervejas especiais virá
com a idade e a mudança na expectativa gastronômica.
"Com 18 anos, você gasta R$ 10 com dez latinhas. Porém,
depois de 20 anos, passa a gastar os mesmos R$ 10, mas
com uma garrafa de 350ml", compara. "A chance de um
jovem migrar para as cervejas especiais é diferente
daquela pessoa com mais de trinta anos, pois a
expectativa de consumo é diferente e o poder de compra
também".
Como escolher a melhor cerveja? A maioria dos especialistas concorda que é
impossível selecionar a melhor cerveja. "É o mesmo que
perguntar a um pintor qual a cor que ele mais gosta",
diz Cilene Saorin. Afinal, existem muitas opções e a
preferência varia de acordo com a ocasião.
Porém, se você não sabe qual cerveja escolher diante
de tantas opções, eles dão algumas dicas. "O consumidor
deve ter em mente que, no caso de cervejas especiais,
está comprando um produto com características bem
distintas daquelas que a maioria considera como padrão
para cerveja", destaca o mestre-cervejeiro Schiaveto.
"Ele pode, por exemplo, procurar se informar sobre os
mais variados estilos de cerveja disponíveis no mercado
em sites e blogs especializados em cervejas, onda há
informações sobre experiências de degustação",
aconselha.
Já a beer sommelier Khatia Zanatta acredita que há
dois pontos principais a serem observados: o estilo e a
data de validade. "Quem, por exemplo, não gostar de
notas amargas intensas, não deve comprar de cara uma Dry
Stout ou uma India Pale Ale. Existem cervejas com
características extremamente distintas e, justamente por
isso, pelo menos um estilo irá agradar cada pessoa",
destaca.
Em relação à validade, a profissional reitera a regra
de que "quanto mais nova a cerveja, melhor". "Com
excessão de estilos como Gueuze, Barley Wines, Old Ales,
entre outros que envelhecem na garrafa, a maioria deve
ser consumida mais rápido, já que a ação de agentes
oxidantes leva à oxidação do líquido e transformação de
seus atributos sensoriais".