Polícia reforça ações em
favelas após violência no Rio
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Operações da polícia
em reação ao terceiro dia seguido de violência no Rio de
Janeiro, atribuída pelas autoridades a traficantes,
resultaram na morte de ao menos dois suspeitos em
favelas da cidade nesta terça-feira.
Foram realizadas ações policiais em 16 comunidades e
o patrulhamento foi reforçado nas ruas com mais 1.200
homens, além da presença do Batalhão de Choque nas vias
expressas.
Numa dessas operações, na Favela Mandela, em
Manguinhos, um suspeito foi baleado numa troca de tiros
com a polícia e morreu. Outro suposto traficante também
foi morto durante incursão policial na favela Vila
Cruzeiro. Outras oito pessoas foram presas, informou a
Polícia Militar em balanço das ações divulgado no fim da
tarde.
"Se as ações criminosas continuarem, vamos com força
dobrada atrás de seus autores. Quem atravessar o caminho
será atropelado", disse o secretário de Segurança
Pública, José Mariano Beltrame, em entrevista coletiva.
"Quem perde reclama, ou aposta na desistência do
Estado, mas quero avisar que vamos dobrar a nossa
aposta", acrescentou.
A onda de ataques começou na tarde de domingo, com
carros incendiados nas ruas, e uma cabine da Polícia
Militar foi alvejada na noite de segunda-feira.
A polícia prendeu durante a madrugada desta terça
quatro homens acusados de tentar incendiar veículos em
ruas de Copacabana, onde acontece a convenção esportiva
internacional Soccerex com empresários e dirigentes
esportivos do mundo todo.
O grupo, entre eles dois menores de idade, foi detido
com artefatos incendiários caseiros que seriam colocadas
sob veículos estacionados, de acordo com a polícia.
Quatro veículos foram incendiados desde a noite de
segunda-feira na zona norte da capital, onde os atos de
violência começaram. Segundo a polícia, não houve
vítimas ou feridos nos ataques contra veículos.
Num incidente separado, que em princípio não teria
ligação com os ataques a veículos, duas pessoas morreram
dentro de um carro que foi metralhado na rodovia federal
Washington Luis, importante via de acesso à capital.
Policiais rodoviários federais foram acionados para
intensificar o patrulhamento nas rodovias, após um
pedido feito pelo governador Sérgio Cabral ao Ministério
da Justiça. De acordo com o governo do Rio, Cabral
também conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva sobre o pedido de reforço.
"Nós faremos aquilo que for necessário para que as
pessoas de bem derrotem aqueles que querem viver na
marginalidade", disse Lula a jornalistas, após evento em
Ribeirão Preto, quando questionado sobre a situação da
segurança no Rio.
REPRESÁLIA A UPPs
Uma cabine da Polícia Militar em Del Castilho, na
zona norte da cidade, foi alvejada com cerca de 50
tiros, mas ninguém se feriu.
As autoridades de segurança do Estado consideram os
ataques uma represália pela implantação das UPPs, as
Unidades de Polícia Pacificadora, em favelas da capital
fluminense que antes eram controladas pelo crime
organizado.
Segundo fontes da Secretaria de Segurança, os
suspeitos querem apavorar a população e causar uma
sensação de insegurança na cidade, que será o palco
principal da Copa do Mundo de 2014 e a sede dos Jogos
Olímpicos de 2016.
O secretário de segurança afirmou que a ordem para os
ataques pode ter partido de líderes de facções
criminosas em presídios do Rio, e que solicitou à
Justiça a transferência de até 13 traficantes para
outros Estados.
Para o sociólogo Ignacio Cano, coordenador de
diversos estudos sobre a violência no Rio de Janeiro, os
ataques podem ter o objetivo de desestabilizar a
segurança, mas não tem o mesmo impacto de ações
criminosas do passado.
"Na queima de carros parece que realmente há uma
intenção de criar um certo pânico, impactar a população,
e pode haver uma intenção dos grupos de desestabilizar a
situação da segurança pública", disse à Reuters o
professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
"Mas, apesar disso, nós já tivemos episódios muito
mais graves, como ataques a ônibus, ataques a
delegacias, e ordem para fechar o comércio, no final de
2006", afirmou, acrescentando que dessa vez um grupo
menor pode ser o autor dos ataques.
A implantação das UPPs em 15 das centenas de favelas
espalhadas pela cidade é considerado o maior avanço na
área de segurança pública da capital fluminense nos
últimos anos, e a medida foi inclusive citada pelo
Comitê Olímpico Internacional como um exemplo de que a
cidade será segura para a Olimpíada de 2016.
Fonte |