Traficantes da Rocinha
estão montando barricadas contra invasão da polícia
RIO - O Setor de Inteligência da Secretaria de
Segurança está investigando, juntamente com policiais
militares do Serviço Reservado da PM (P2), as denúncias
de moradores da Favela da Rocinha de que traficantes
estariam fazendo barricadas e trincheiras, em pontos da
favela, contra uma possível invasão da polícia na
região. O tráfico da Rocinha também estaria com bananas
de dinamite, que foram roubadas ou desviadas de clientes
da empresa Dinacon Indústria e Comércio, localizada em
Estrela, Rio Grande do Sul.
Em entrevista coletiva domingo, o secretário estadual
de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, mandou um
recado aos traficantes de áreas que ainda não foram
ocupadas pela polícia:
- O estado do Rio de Janeiro tem (o setor de)
Inteligência. E, se chegamos ao Alemão, vamos chegar à
Rocinha, vamos chegar ao Vidigal e assim por diante...
Moradores denunciaram que um bom número de criminosos
fugidos do Alemão e da Vila Cruzeiro já está na Rocinha.
A Travessa do Valão, um dos principais acessos à
comunidade, foi bloqueada por uma barricada de mais de
um metro, feita com grades de ferro, galões de gasolina
e blocos de cimento. Vários homens armados estão
ocupando o Valão e a Via Apia.
Policiais da Inteligência estão há 4 dias na
favela
Policiais da P2, disfarçados, estão há quatro dias na
favela fazendo um levantamento. Atualmente, a SSP
investiga de dois a três casos de desvios de dinamite de
empresas e pedreiras. O clima na Rocinha foi tranquilo,
e a Polícia Militar intensificou o patrulhamento na
Avenida Niemeyer e em São Conrado. Sábado havia um clima
de apreensão em torno da Rocinha porque o traficante
Fábio Atanásio, o FB, estaria refugiado na região.
Moradores negaram que o traficante da Penha esteja na
Rocinha. Parte do comércio abriu as portas,
principalmente nas ruas próximas à Autoestrada
Lagoa-Barra.
Sábado, durante incursão na Vila Cruzeiro, na Penha,
a Polícia Civil encontrou 32 bananas de dinamite,
equivalente a 26 quilos. Segundo as investigações, o
material seria usado em ataques a ônibus ou carros.
O setor de Inteligência já sabe que as dinamites
achadas na Penha e em Madureira anteriormente foram
fabricadas pela Dinacon Indústria e Comércio. Na
quinta-feira, um gerente da empresa confirmou que o
artefato pertencia à fábrica, mas que, provavelmente,
tinha sido desviado ou roubado de algum cliente. No
início da semana, o secretário de Segurança, José
Mariano Beltrame, negou que a polícia carioca estivesse
procurando um caminhão roubado no último dia 10 com 600
quilos de dinamite, que seriam usados em atentados no
Rio. Investigadores da SSP confirmaram, ontem, mais uma
vez, que as apurações sobre a dinamite continuam.
- Durante a noite, já vimos homens armados fazendo
buracos perto da Rua 2. O grupo parecia muito nervoso.
Mais tarde denunciamos o caso ao Disque Denúncia.
Estamos preocupados - disse uma moradora da favela,
domingo, que ligou para o jornal denunciando a história.
Ela confirmou que traficantes orientaram a comunidade
a comprar velas e fósforos, já que a iluminação da rua
seria cortada em caso de invasão.
- Eles estão rápidos. Continuam cavando buracos e
instalando barreiras para uma eventual invasão da
polícia - concluiu a moradora.
Um morador também contou que, depois de um tempo
sumido, o traficante Nem voltou à favela. Agora, como
cabelos e barba crescidos e mais forte.
O chefe do Esquadrão Antibombas, inspetor João
Valdemar, confirmou que o Setor de Inteligência da SSP
está levantando a procedência das bananas de dinamite.
-- Estão fazendo um levantamento dos desvios de
dinamite de pedreiras e das empresas fabricantes. A
quantidade achada anteontem na Penha poderia destruir um
prédio de dez andares. Os criminosos que colocaram a
dinamite em Madureira não souberam fazer o detonador -
explicou ele, que confirmou, ainda, que a numeração das
bananas de dinamite está sendo analisada pelo SSP.
Milhares de quilos de explosivos roubados
As polícias carioca e paulista continuam apurando um
assalto no dia 2 de setembro, quando cinco bandidos
levaram, na Rodovia Fernão Dias, em São Paulo, um
caminhão com 2.350 kg de explosivos. Oito dias depois, a
Polícia Civil de São Paulo recuperou na capital paulista
1,5 tonelada de explosivos. As polícias paulista e
carioca investigam também o roubo de uma carga de
explosivo no dia 10 numa pedreira em Jundiaí. Outro caso
ocorreu em Gravataí (RS), de onde foram levados 300
quilos de dinamite.