Comemoração de gol com
beijo lésbico
Quito, 20 set (EFE).- A comemoração de um gol
com um apaixonado beijo entre duas jogadoras do mesmo
time culminou na expulsão da equipe de um campeonato
local no Equador.
O clube feminino de Guipúzcoa, uma equipe que se
declarou abertamente lésbica, foi expulso da Liga La
Floresta, depois que duas jogadoras se beijaram após
marcar um gol, numa partida em 2009.
As atletas denunciaram o caso na Justiça equatoriana,
que decidiu a seu favor, mas elas temem pôr em risco sua
integridade se voltarem a jogar na competição.
"O juiz se pronunciou a favor da equipe Guipúzcoa,
mas, na parte resolutiva, não mencionou nada da
reparação de direitos nem sobre proteção. Entendemos que
com essas condições ainda não podemos jogar", disse
Karen Barba, a presidente do clube, em entrevista à
Agência Efe.
Ela ressaltou que, a seu critério, existe atualmente
toda uma campanha de "ódio e repúdio" contra elas por
parte dos diretores da Liga, que recorreram da sentença.
O advogado do torneio, Félix Zambrano, argumenta que
a decisão do juiz é "errônea" porque parte da base que
as jogadoras foram punidas por sua orientação sexual,
enquanto, segundo ele, elas o foram pelo comportamento
que atenta "contra a moral e os bons costumes", ao
contrário dos princípios da Liga.
"Não é somente um beijo ou um abraço de afeto. O
inconveniente é quando as moças acariciam as partes
íntimas diante de crianças, jovens e adultos. São atos
contrários à moral e aos bons costumes da Liga La
Floresta", reage Zambrano.
Por sua vez, as jogadoras do Guipúzcoa consideram que
seus direitos foram violados sistematicamente pelos
diretores da competição e, por isso, saíram às ruas de
Quito para exigir retratações e manifestar sua condição
sexual.
Ao ritmo de assobio e tambores, com as caras pintadas
como se fossem guerreiras, elas parodiaram o "futebol
competitivo e agressivo dos homens", explica a criadora
da coreografia, Cayetana Salau, para quem este ato
também serve para expressar o "futebol afetuoso, lésbico
e feminino".
Karen Barba enfatiza que o caso da Liga La Floresta é
só uma pequena amostra do que ocorre com as lésbicas no
espaço público equatoriano.
"Enfrentamos vários tipos de problemas, desde alugar
um apartamento até no setor de saúde, porque os médicos
não estão capacitados para atender mulheres lésbicas",
afirma, com tristeza, a presidente do Guipúzcoa.
A jogadora Ani Barragán opina que a discriminação
para com as lésbicas se deve à falta de informação e
educação, bem como pelo moralismo da Igreja e de uma
sociedade patriarcal e machista, que "exercem violência
e pressão diária contra as mulheres, e especialmente
contra as lésbicas".
Cayetana Salau deplora que as mulheres homossexuais
também não são aceitas dentro do "imaginário social
equatoriano". Segundo ela, é mais bem visto que um homem
faça suas necessidades na rua que uma menina mostre
sinais de afeto com outra, o que é declarado "imoral e
obsceno".
As integrantes da equipe Guipúzcoa criticam
categoricamente a existência de supostas "clínicas" de
"normalização" e de "desomossexualização".
Salau explica que, no caso do Guipúzcoa, há uma
menina que foi internada em uma dessas supostas
"clínicas" e que sua namorada não pôde fazer nada para
tirá-la porque as instituições "não sabem como lidar com
esses assuntos".
Para Karen Barba, um dos problemas que favorecem
essas 'clínicas' é que "uma terceira pessoa pode
internar a outra que tenha transtornos de gênero".
"Nessas clínicas, estão violando os direitos humanos,
estão violando mulheres lésbicas, estão assassinando
transexuais, sob o auspício das autoridades.
Consideramos isso sumamente grave", ressaltou.
Apesar de todos os inconvenientes vividos pelas
lésbicas no Equador, as integrantes desse time de
futebol sabem que marcaram um gol ao reivindicarem seus
direitos. Segundo elas, "o Guipúzcoa foi um dos orgulhos
lésbicos desta década".
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