Verdades ou mentiras? Livro
derruba tabus e reafirma crenças e mistérios sobre o
imaginário psicológico da humanidade ao longo dos tempos
É bem provável que você já tenha ouvido que “tocar
músicas clássicas para o bebê estimula sua inteligência”. Ou
que “educar crianças de maneira similar leva a semelhanças
em suas personalidades adultas”. Talvez ainda tenha
acreditado nas máximas que dizem que “as úlceras são
causadas pelo estresse” ou que “os opostos se atraem”...
Essas e outras afirmações provenientes em geral de análises
psicológicas ao longo dos tempos agora são colocadas em
xeque pelo livro “Os 50 Maiores Mitos Populares da
Psicologia – Derrubando Famosos Equívocos Sobre o
Comportamento Humano”, que reúne os maiores fantasmas que
rondam o imaginário popular e a explicação científica sobre
o que é falso e o que é verdadeiro, em meio à brasa desta
fogueira.
A obra foi escrita em conjunto pelos professores de
psicologia Scott O. Lilienfeld, Steven Jay Lynn, John Ruscio
e Barry L. Beyerstein.
Veja abaixo o que é, ou não, verdade. E divirta-se com as
interessantes conclusões!
1) A maioria das pessoas usa apenas 10% de sua
capacidade cerebral
Os autores do livro explicam que sempre desapontam as
pessoas quando dizem que isso não é verdade.
Uma das explicações para a disseminação desse mito é a
seguinte: No final do século XIX, o psicólogo norteamericano
William James afirmou em um de seus trabalhos que a maioria
das pessoas comuns jamais superaria mais do que cerca de 10%
de seu potencial intelectual.
James se referiu à capacidade intelectual, e não a alguma
parte específica do cérebro. Em pouco tempo, diversas
pessoas alteraram a afirmação --e os 10% de nossa capacidade
se transformaram em 10% de nosso cérebro. Tanto é que o mito
segue até os dias de hoje.
2) A adolescência é inevitavelmente uma fase
de perturbação psicológica
Em 1904, o psicólogo G. Stanley Hall se referiu à
adolescência como uma fase de “ímpeto e tempestade”. Em
1958, Anna Freud, filha do famoso psicanalista Sigmund
Freud, escreveu que “ser normal durante o período da
adolescência é, por si só, anormal”.
Os especialistas autores do livro explicam que, apesar das
constatações psicológicas que apontam a adolescência como
uma fase muito sensível para o indivíduo, as pessoas
reforçam exacerbadamente esta ideia.
É verdade que alguns jovens passem por uma fase de elevadas
perturbações psicológicas durante a adolescência, mas isso é
a exceção, e, não, a regra! Cerca de apenas 20% dos jovens
passam por perturbações acentuadas. Mas os pais devem ficar
atentos para não negligenciar a saúde psicológica do filho,
crendo que seja “apenas mais uma fase”.
3) As úlceras são causadas, sobretudo, ou até
inteiramente, pelo estresse
Em 1950, o psicanalista Franz Alexander sugeriu que a doença
tivesse relação com desejos infantis por alimentos e a
sentimentos de dependência. Ultimamente, há um consenso
geral que as úlceras são causadas pelo estresse.
Cientistas e psicólogos afirmam que o estresse tem, sim,
influência, mas principalmente no sentido de desencadear
comportamentos de risco, como o uso de álcool e a falta de
sono, o que facilita o surgimento da doença.
4) A maioria das pessoas vive uma crise da
meia idade entre os 40 e 50 anos
O imaginário popular estabeleceu quase como regra que homens
e mulheres entre os 40 e 50 anos de idade vivem uma crise
pessoal. Estudos interculturais mostram que, ao contrário do
estereótipo, as pessoas nesta faixa etária apresentam maior
segurança e sentimento de bem-estar, em comparação à década
anterior.
Um estudo realizado em 2004 revela que mais de três quartos
dos entrevistados do sexo masculino classificaram seu
relacionamento de “bom” a “excelente”. A conclusão dos
especialistas é que a temida crise da meia-idade não é uma
perspectiva para todos, nem mesmo uma ocorrência provável.
Portanto, se você quiser fazer mudanças radicais em sua
vida, como comprar o tal carro esporte vermelho, nunca é
cedo nem tarde demais para fazê-lo.
5) Se você não tem certeza da resposta ao
fazer um teste, o melhor é ficar com o seu palpite inicial
Essa teoria é praticamente regra entre os alunos, que sofrem
com as assustadoras provas de múltiplas escolhas. No livro,
mais de sessenta estudos contabilizados levam à conclusão de
que quando os estudantes mudam sua alternativa inicial, sua
probabilidade de mudar da alternativa errada para a certa é
muito maior.
A dica dos psicólogos é não confiar tanto nos instintos em
casos similares. Os primeiros palpites são apenas palpites.
Se o estudante tiver uma boa razão para crer que está
errado, o melhor a fazer é seguir o raciocínio e mudar a
alternativa escolhida.
6) Os opostos se atraem: somos mais
romanticamente atraídos por pessoas diferentes
Ninguém sabe ao certo como esse mito foi criado, mas no
livro são listadas três possibilidades para sua origem.
A primeira vem dos filmes hollywoodianos. Uma história de
amor entre duas pessoas diferentes é muito mais emocionante
do que um filme em que o casal principal é parecido.
Portanto, fatalmente menos interessante.
A segunda aparece da compensação. Bem lá no fundo, todos
procuram alguém para compensar suas fraquezas e completar
suas qualidades. É como se as pessoas buscassem a peça que
falta de um quebra cabeça -- e isso só seria possível com
alguém diferente.
E terceira teoria teria surgido para apimentar a relação.
Apesar de ser um mito, essa tese possui um pouco de verdade,
já que algumas diferenças podem apimentar o relacionamento
de um casal.
7) É melhor expressar a raiva a guardá-la para
si mesmo
A psicologia nos ensina que a raiva é um monstro que devemos
domar. Muitos defensores da catarse (liberação da raiva)
aconselham a expressar a raiva de alguma forma, a fim de
evitar o risco de agressões.
Segundo os autores do livro, há inúmeras evidências que
provam que a raiva alimenta a agressividade. Os psicólogos
explicam que, mesmo sem a catarse, a liberação de toda a
descarga sentimental acaba passando inevitavelmente após um
tempo.
8) Mozart estimula a inteligência?
A teoria que relaciona a música clássica de Mozart com o
estímulo à inteligência foi publicada em 1993 na revista
científica Nature. Pesquisadores da Universidade da
Califórnia, em Irvine, relataram que estudantes que ouviram
dez minutos de uma sonata para piano do compositor
apresentaram uma significativa melhora em uma tarefa de
raciocínio espacial.
Após explicar passo a passo a descoberta dos pesquisadores
californianos, os autores do livro concluem que o tal
“efeito Mozart” não passa de um estímulo de curto prazo, que
realmente melhora o estado de alerta, mas não surte efeitos
a longo prazo para a evolução da inteligência dos pequenos.
O livro mostra que a ideia de apresentar músicos clássicos
para as crianças é fantástica, mas, sobretudo, por fatores
culturais. Entretanto, os autores alertam que “os pais que
esperam transformar os seus bebês em gênios, expondo-os ao
som de Amadeus ganhariam mais guardando o seu dinheiro”.
9) Educação similar resulta em personalidade
parecida?
Muitas teorias psicológicas discutem a hipótese que
indivíduos que recebem a mesma criação durante a infância se
tornam adultos com personalidades semelhantes. É comum
imaginar que “se educarmos os filhos da mesma maneira que eu
fui educado, ele será parecido comigo quando adulto”.
A publicação apresenta, entre outras pesquisas, um estudo
realizado com indivíduos sem parentesco entre si que
receberam a mesma criação em uma família adotiva, mas
desenvolveram personalidades super diferentes!
“Isto não simboliza que o ambiente compartilhado não cause
nenhum efeito sobre nós”, explicam os autores do livro. A
conclusão é que a semelhança entre indivíduos que receberam
a mesma criação recebe influência do ambiente externo sim,
mas também dos genes familiares. “O fato de que as práticas
de criação dos pais precedem a semelhança entre pais e
filhos não significa que tais práticas sejam a causa dessa
semelhança”.
De maneira divertida e clara, o livro esclarece as mentiras
acerca da psicologia que são contadas e repetidas por aí.
10) Durante a lua cheia, as taxas de
internações em hospitais psiquiátricos e de crimes aumentam
Ao longo dos anos, a lua cheia tem sido relacionada a
estranhos fenômenos, como internações psiquiátricas, crimes,
suicídios, acidentes de trânsito etc. A crença é tão antiga
que a palavra “lunático”, que significa maníaco, ou
psicótico, deriva do latim “luna” ou “lua”. Lendas de
lobisomem e vampiros apenas reforçaram esse mito.
Em 1985, os psicólogos James Rotton e Ivan Kelly analisaram
diversas pesquisadas relacionadas ao chamado efeito lunar.
Os pesquisadores não encontraram nenhuma evidência que
associasse a lua cheia aos transtornos a ela relacionados.
Uma das explicações para a disseminação do mito tem
fundamentos em outros séculos, antes mesmo do advento da luz
elétrica. Antigamente, quando as cidades eram menos
iluminadas do que hoje, a lua cheia privava o sono tranquilo
de moradores de rua, que sofriam com transtornos mentais. É
sabido que a privação de sono desencadeia mudanças de
comportamento, principalmente em portadores de transtornos
psicológicos. Por conta disso, “a lua cheia pode ter sido
associada às elevadas taxas de comportamentos bizarros”.
Estranho, não?
11) O fato de um traço ser hereditário significa que
não podemos mudá-lo
Há diversos estudos científicos sobre o tema. Pesquisadores
explicam que as crianças não dividem seus genes apenas com
seus familiares, mas também com muitos aspectos do ambiente
em que vive. Os autores deixam claro que os fatores
hereditários podem sofrer alterações a partir de fatores
externos.